sexta-feira, 30 de setembro de 2011

em viagem, no esplendor dos dias


parti sem destino em busca de um lugar incerto porventura habitado por sortilégios, prodígios e segredos, cujos súbitos fulgores pudessem libertar ainda o rosto fatigado do compasso inexorável do tempo. tal como o marinheiro errante tocado pela graça do mar e levado pela asa variável do vento, ousei sulcar o azul vibrante levando comigo o saber do viajante antigo de olhos maravilhados de tanto amar a perenidade dos instantes. encontrei não sei se pedras de água se seixos rolados através das idades do sol incidente, pouco importa, pois eram praias de areias tão finas com marcas de passos tão presentes que a água se fazia pedra, a pedra, brisa e os passos por certo seriam marcas de amantes clandestinos no lume deslumbrado das manhãs. mergulhei na aventura das águas profundas e em braçadas largas fui tão fundo quanto a vertigem do olhar que antecede o espanto das dunas quando a onda se desfaz em espuma e no horizonte se perfilam as cores pacíficas do corpo apaziguado do entardecer. tendo a lua por companhia e vénus um tudo nada mais distante, naveguei sem bússola nem quadrante em noites de palavras proíbidas, sendo o dito o silêncio do brilho das estrelas e o silêncio a pele dos meus dias correndo ao encontro de mim mesmo. no rumor das marés, nas madrugadas anunciadas, nas largas enseadas entre línguas de areia e delicadas hastes de plantas bravias ondulando ao sabor do vento, na ampla curva do horizonte, no limite do olhar e no fundo do dizer-me, sob o voo de uma gaivota suspensa no esplendor dos dias, soube, assim, no encontro do outro em mim, o sentido do saber antigo das praias viajantes onde os deuses guardam em segredo o mistério da plenitude dos instantes.

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