segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Vem




A língua viaja vagarosa o mapa da memória do teu corpo como se o lugar do sagrado fosse a fenda lúcida do desejo, o refúgio das mãos em busca da luz cintilante das estrelas. Quando os dedos de tão leves na seda das coxas são uma trégua na noite dos prodígios, uma pausa na água das nascentes, uma lua vaga na desordem dos lençóis, então, sabes, o tempo não é tempo, é o arfar secreto do silêncio, um frémito de pássaros em suspenso, o mistério da brisa suave do levante. E a vaga navega lenta, e o mar é tanto, e o olhar tão limpo que o azul exultante da palavra é como a sílaba breve do despertar da pele no segredo do instante.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

em santiago, no campo das estrelas



santiago é um cidade antiga de pedra trabalhada, uma cidade de corpos em busca da luz concedida aos artesãos cujas mãos, por certo tocadas pela graça dos amantes, ergueram catedrais de espanto e palácios de maravilha e desenharam ruas de misteriosa geometria, à medida, talvez, dos passos de caminhantes fascinados ou de um beijo sagrado de bocas aturdidas no voo de um pássaro em lençóis brancos, ao cair do dia. milagre é este rumor nómada de gente devota não do ritual do santo mas da ode dos braços abertos à música dos anjos lá onde a lua se anuncia descaída sobre o lado esquerdo do peito e o coração bate a descompasso no sobressalto de um olhar apaziguado e limpo de tão intensamente arder. peregrino de mim mesmo, agora que a noite cai na memória do tempo e do seu labirinto, sigo o doce flanco da linha do horizonte, o seio súbito desperto no umbral do silêncio e lento aconteço sem tempo entre o campo das estrelas indizíveis e o insondável mistério dos lábios onde a pedra dos séculos respira.