domingo, 28 de agosto de 2011

em witebsk, sabendo amar por inteiro





se em sorte um dia o amor me coube e amei sabendo amar por inteiro, foi por um instante ter sabido o segredo do mensageiro da luz, das cores vibrantes da paleta dos meus sonhos, ó esse azul abraçando a tela como um fulgor de águas límpidas numa carícia de cabelos e véus desfeitos. nunca assim soubera poder amar. nem imaginar podia, nessa minha longínqua aldeia de witebsk, de que um dia os meus pincéis haveriam de subir ao céu dos sóis ardentes, dos peixes prateados cintilantes, das silenciosas luas adolescentes, levando consigo camponeses de vestes de linho branco e animais de porte tão improvável quanto a tua leve silhueta célere a caminho do imprevisto encontro na ponte anichkov, em são petersburgo, sobre o neva. eras tu o mensageiro, bella. de ti recebi a dádiva do olhar como se para além da aparência dos dias o mundo fosse, afinal, o lugar de prodígios tantos como os meus dedos ao de leve acordando delicados o despertar dos teus mamilos, como se o teu sorriso suave vindo fosse a perene poeira das estrelas caindo lenta na aldeia maravilhada da tela dos meus dias. na minha aldeia de witebsk um cavalo vermelho voou de asas abertas, passageiro do vento, como se o destino fosse o tempo e o tempo ficasse suspenso no puro espanto do sopro amarelo e ocre das sementes inadiáveis da manhã. e, assim, levitando de mãos dadas nas estrelas da minha pátria ucraniana ou olhando o mundo da janela aberta do nosso quarto alugado de paris, cada quadro por mim pintado foi teu também, porque cor a cor amorosamente nomeavas o rigor da cor certa do dizer do meu olhar. de tão frágil o teu coração quebrou, bella, e eu fiquei interdito nesse longínquo instante imprevisto da ponte anichkov, em são peterburgo, sobre o neva, erguendo uma mão infantil desconsolada, segurando a outra a dádiva da paleta vibrante dos meus sonhos. não, nunca assim soubera poder amar e, contudo, amei, grato do teu sorriso, agora brisa, no halo inocente do arco-íris do meu tempo.


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