
terça-feira, 30 de agosto de 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011
em viagem, sobre o lado esquerdo

sobre o lado esquerdo o silêncio prossegue sua longa viagem de sal e espuma, de sol e penumbra, rente ao limiar do enigma que é murmúrio de fonte ou sopro de algas, sulco do rosto ou cicatriz do tempo. sobre o lado esquerdo há um lugar secreto, a noite irrevogável de uma poeira de estrelas, uma mão precária de luar fulgente, a areia fina que foge por entre os dedos da vertigem do azul intenso. sobre o lado esquerdo respira o sinuoso traço da memória, o eco da erosão da pedra, o cristal puro da água, o tigre vigilante do mistério do anoitecer na sua irredutível condição de ser tendo sido e, de novo, ser. sob a luz vertical da manhã, entre o descampado da ausência e o sortilégio da pele, nesse instante de tudo ser nada e de nada ser tudo, súbito bate descompassado o relógio dos passos, tanto quanto um mar de espanto ou uma flor do vento, um alvoroço de pássaros ou um coração ardente, sobre o lado esquerdo.
domingo, 28 de agosto de 2011
em witebsk, sabendo amar por inteiro

em viagem, pelo signo de assim ser

em viagem, na viagem de outro corpo

a tua língua lenta nos lábios húmidos da minha fenda voa súbito até à
agonia da minha boca e vagarosa como a saliva encontra os meus seios
impacientes do despudor das tuas mãos, duros de serem presa dos teus
dentes, ó sentir-me assim prestes abusada no veludo da pele, ceder
ao toque dos teus dedos, sucumbir à tormenta dos teus flancos, ouve,
quero soltar-me no grito obsceno da garganta, quero ser festim do teu
corpo a prumo na gruta que doendo rompe a penumbra do meu ser,
ó, sim, dá-me a claridade dos sentidos como se a luz incandescente
de um cometa rasgasse a brancura dos lençóis e me fizesse fêmea
contigo no galope da cama, exultante do estertor do teu relâmpago,
inteira de saber-me na alma fulgor do teu banquete .