sábado, 8 de outubro de 2011

em amesterdão, na praça dam




na praça dam, amesterdão, com seus elegantes edifícios anunciando os mistérios do crepúsculo, ouço o rumor distante do silêncio e sinto a brisa gélida deste inverno onde tudo, porém, está certo, salvo, talvez, a tua ausência. penso na amável conjugação dos verbos mais secretos, num alvoroço de pássaros em lençóis desfeitos, mas esse estar presente diluído na ausência é apenas uma lua vaga nos sulcos do meu rosto. saberei, contudo, adivinhar-te, seja um relâmpago o bastante, e penso nisso, agora, na brasserie majestic, quando no outro lado da praça, no museu de madame tussau, vejo figuras de cera alinhadas no desconcerto do tempo espreitando os rigores do frio e procurando, quem sabe, iludir os ponteiros de um relógio quebrado ou ensaiar os passos de uma improvável valsa lenta. pouso, então, a luva da minha mão direita sobre o tampo da uma mesa, testemunha silenciosa de enigmas antigos que habitam as estações. lá fora há luzes que se acendem, flocos de neve soprados pelo vento, agasalhos quentes de cores diferentes, gentes caminhando seguras por entre bicicletas em rodopio desenhando sobre o gelo arriscados desenhos fulgurantes. gosto de amesterdão assim, desta neve e desta névoa, da espuma espessa da cerveja nos meus lábios, da surdina do trompete de chet baker, destas vozes ciciadas, da jovem de cabelo louro curto da mesa ao lado na serena expectativa de um amante anunciado. assim estou, apaziguado ou nem tanto, resguardado na bruma de mim mesmo, olhando aquela indecifrável luva como se um súbito calor, talvez relâmpago, me pudesse trazer a memória de um rosto iluminado por um sorriso ou o sobressalto dessa minha mão direita fascinada e interdita pelo sorriso desse rosto.


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