vivi o medo sombrio da loucura e a loucura luminosa da paixão, respirei nas dunas o murmúrio do vento, memórias de um corpo, de um rosto atento ao desafio do tempo. fui água e fui pedra, talvez ave de voo nómada pairando no azul de uma luz primitiva entre a delicada haste da seara ao vento e o raio de sol livre de ser casa, árvore, clarão de espanto de mim mesmo. soube de tudo sabendo de nada, nessa condição do mosto em levedura ou da mão errante do pedreiro em busca da forma definitiva e perfeita. em noites de lua cheia abri os braços à poeira das estrelas e espalhei os dedos pelos cabelos desfeitos dos mistérios dos amantes. naveguei o lume do instante e fui feliz de tanto arder reencontrado nesse fogo feito terra, chuva, semente, espiga. grato, conheci o erro e os seus enganos e errando levantei a taça de vinho fazendo votos de errar de novo como se um deus benigno me devolvesse a graça perdida da fonte do leite e do mel. de tanto ouvir o ladrar do cão da consciência também atravessei o túnel da escuridão e não era um filme de kurosawa, era o silêncio branco dos meus olhos alongados na irreparável distância de quem sendo, fui. diante do espelho, entre o branco e o negro, imaginei a linha sinuosa dos meus passos e o o espelho, alheio ao enigma das estações, talvez signo do zodíaco, talvez sábio das veredas onde perdido me achei, disse nada. e, contudo, disse. sou livre. centauro. anoitece. aconteço.
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